terça-feira, dezembro 08, 2009

Cigarette Countdown #9


E o que se segue tem que ser impressionante.

Se até agora estou sem respirar por ter você aqui de pé, me olhando sentada, atônita, minhas mãos na sua cintura, sua cintura na fumaça do último cigarro, cigarro esse que nem sei se existiu.... não senti... não vi queimar.
O que mais terei de você?
Tive suas costas-dança, seu sorriso-fumaça, seu dedo-gosto. Tive meia-noite de lua, de sombra e chama.
Seguro suas coxas cobertas de jeans, te faço dobrar os joelhos e tenho você preenchendo o vazio ao meu redor. Seus cabelos saem do controle quase inexistente pra se jogarem sobre meu rosto quente. Qual golpe poderia ser mais preciso? Perco o ar definitivamente. Tomo sem pedir, as pequenas e breves exaladas da sua respiração perto da minha boca.
Perco a visão, mas afinam outros sentidos. Sinto cada pelo do seu braço, cada curva dos ossos. Ouço tudo claramente. Você se abaixa mais sobre mim, coloca sua perna entre as minha, exerce a força entre elas que eu mesma já não tenho. Me faz curvar.
Me faz soltar um som que nunca tinha ouvido antes, um grito surdo, cerrado entre dentes e lábios. Seus lábios no meu ouvido, meu ouvido recebe a mensagem, a mensagem chega onde não deveria, e eu compreendo o que você tenta dizer: "Não estou sozinha. Apenas hoje. Por enquanto estamos aqui, e não poderá ser outra noite."
Mais uma dança de pernas, mais um tranco nos quadris, mais pele, mais cabelo, mais sufoco, mas... Assumo o controle, vou por cima, deixo você ali deitada. Você se vira, me dando as costas mais desejáveis de todos os minutos dessa noite, estende a mão até a cômoda, pega o que antes era nosso fogo, agora é nossa dúvida. Não vejo seu rosto, mas seu corpo inteiro estremece num desejo interrompido.
Nosso cigarro é sugado no silêncio.
Nossa noite é sugada num moinho, um furacão, e nós no meio, vendo o mundo girar.
Fim do Nono Cigarro

terça-feira, novembro 24, 2009

Cigarette Countdown #8

E você me olhou, e me olhou bem.
Um pouco de ar roubou o espaço entre nós duas. Refrescou o suor da noite quente, da faísca do atrito dos corpos incendiários. Refrescou, mas não diminuiu o estrago.
Você soltou meu quadril por um instante, passou as costas da mão no meu rosto, afastou meu cabelo ensopado de te querer, aproximou a boca no meu ouvido e fiquei esperando a rajada da sua voz. E veio, e entrou, e me arrebatou: "A espera é só sua." - ela disse - "Mas não precisa ter pressa!"
Não quero ter pressa, quero descobrir cada gosto seu, cada cheiro, quero ver sua pele saltar da carne quando te toco. Mas você se esconde de alguma forma. São seu cabelos nos olhos, é sua respiração entrecortada, nunca terminando o que insinua, é a sua voz que me remete à algum beco escuro, sem saída?
Nada disso! Retomo. Eu te levo pra onde eu consiga só você. Vem comigo?

Acho uma porta, te pego no braço.
Acho uma chave, te puxo pra dentro.
Acho um escuro macio, vazio, silêncio.

Pressa? Pra que a pressa? Repito incansavelmente na minha mente inquieta. Pra que o sufoco do tempo?

Sento na cama, te sinto apenas, não te vejo. Alcanço a sua mão, os dedos finos, quero um dedo apenas. Temo estar indo rápido demais. Quero lento. Que gosto terá? Gosto de medo, de vontade, de querer agora? Ou depois? Abro a boca devagar, sinto primeiro o cheiro, depois a língua toca a ponta, e todo o dedo, e você treme, como eu.
Lento?
Devagar?
Sem pressa?
Você não pensa mais nisso, nem eu. Arranco o pouco que cobria seu colo, e tenho, sem ver, o contorno perfeito dos ombros, costas, peitos, cintura.
Luz! Vejo o mínimo do que antes estava na minha boca. Seu dedo. Outros dois dedos e um cigarro no meio. Luz no rosto, fogo nos lábios. Te vejo um pouco. Te vejo um quase. Fumaça. Arde seu sorriso mordendo os lábios.
Aproveito a pausa pra te observar, e te querer ainda mais.
Mais um cigarro e novo começo.


Pra que a pressa?
Pra que o tempo?
Quero te amanhecer.

FIM DO OITAVO CIGARRO

quinta-feira, outubro 08, 2009

Cigarette Countdown #7

De volta do meu devaneio, confirmo: Não tenho controle, nem quero ter.

Você está na minha frente, tão real como tudo que eu invento.

Estamos tão perto de conseguir o que queremos, seus olhos fechados, os meus bem abertos, pra te memorizar, pra te desfragmentar em milhares de cores, milhares de luzes.

E passo a mão nos seus cabelos, seguro sua nuca. Mais um beijo, mais todos os beijos que eu posso te dar.

Colo na parede, me mesclo com o vermelho da cortina e te puxo pro fogo comigo.

Sua mão me toca, fundo. Atinge meus ossos, eles tremem. Seu dedo desce pelo meu ombro, peito, barriga. A mão inteira agora, me segura pelo quadril, desenha minha curva até as costas. A mão inteira, eu sinto todo o desenho dela, todas as linhas, todos os seus póros grudados nos meus. Seus dedos fecham, pegando o máximo de mim. É só a palma, mas sou eu inteira nas suas mãos.

O caminho ainda vai pra baixo, mais pra baixo... até onde iremos agora? Pra onde você leva o pouco ar que consigo respirar quando estou com você?

Suas duas mãos no meu quadril, me puxam com força pra você. Sua rapidez é impressionante! Atinge o bolso da calça, entra sem pedir licença, vasculha e acha... Puxa o isqueiro. É fogo que você quer? Vamos começar com esse. Vasculho em você também. Acho o maço, tiro dois, acende o meu. Acendo o seu.

Olha pra mim, mas olha bem e responde: Por quanto tempo mais terei que esperar?


FIM DO SÉTIMO CIGARRO


terça-feira, agosto 18, 2009

Cigarette Countdown #6 - Pausa para devaneios


Abrir
procurar por aquilo que desejo
...
Trazer pra perto
Abrir mais
...
Deslizar o dedo
pegar aquilo que me instiga
...
Intransponível no início
Não querer desistir!
...
Conseguir tocar
Macio
...
Ter em minhas mãos
Passeando entre meus dedos
...
Sentir o cheiro
Levar até a boca
...
Procurar pelo fogo
o que me faz arder
...
Conseguir queimar
de primeira
...
Sentir o gosto
e o cheiro, e o fogo
...
Na língua
Narina, garganta
...
Respirar tudo isso
arder por dentro
...
Fechar os olhos
e sentir o tremor
...
O meu corpo tomado
disso, do cheiro, do gosto, do fogo
...
Ficar tonta com a primeira
Ficar entregue com a segunda
...
Trançar as pernas com a primeira
Afrouxar as pernas com a segunda
...
Não conseguir respirar
Não conseguir se conter
...
Segurar o máximo dentro de mim
E sentir que vai explodir, ou voar
...
Querer mais de mim
Querer mais de tudo
...
Saber que está quase acabando
E sonhar em começar tudo de novo
...
Estar a um milésimo de segundo do fim
E entender o que eu tenho
...
Nada na verdade
Apenas
...
Isso entre meus dedos
O fogo do cigarro
...
Isso entre minhas pernas
O fogo de você

FIM DO SEXTO CIGARRO

terça-feira, julho 21, 2009

Cigarette Countdown #5

Eu tremo, inteira, quando sinto sua mão de leve no meu rosto enquanto eu te beijo. Eu vou ao céu e volto, a tempo de ainda perceber quão real você é. E ouvir a música! Essa música que você cria com suas risadas perto do meu ouvido.

Olho ao meu redor, tanta gente... Quero te levar pra longe daqui. Seus olhos também passeam, conversam com outros olhares e quando cruzam os meus, percebemos que já não há mais o que fazer.

Estamos prontas!

Meus sentidos estão aguçados, como numa caçada. Pupilas dilatadas, pêlos eriçados, músculos com extrema prontidão!

Ainda não...

Te pegam pela mão, te fazem conhecer pessoas, te contam longas histórias, te fazem contar históras, muito mais longas. E eu espero, teu vinho espera, eu, tua, espero.

Mais um cigarro solitário, no canto, no escuro, no íntimo da espera, no limiar do meu desejo. Fecho os olhos, levo o cigarro perto do ouvido. Digo seu nome enquanto escuto a brasa queimar, e ouço sua risada, pegando fogo em mim. Digo seu nome mais uma vez e tenho a impressão que vou sorrir eternamente.

Ao abrir o olho, te tenho ainda na moldura. Menos gente, menos foco, mais nós duas. Levo teu vinho e me levo até você.
Você vem.
Você perto.
Você inteira.
E é só isso que interessa.
Largo o pobre cigarro solitário no chão.
Esmago o final da minha espera.

E estamos prontas!

FIM DO QUINTO CIGARRO



quinta-feira, junho 18, 2009

Cigarette Countdown #4


Desviando de pessoas, fumaça, cabelos, copos... Isso é só um apartamento, mas pareço perdida numa cidade estranha, a sua procura. Tremo, muito! Frio não é. Minhas extremidades estão ardendo, meu rosto escaldado, fervendo com a lembrança quente do seu sorriso.

Passo por um, dois, três corpos. Não é o seu. Quatro, cinco, seis costas, nada me chama. Sete, oito, nove cigarros em mãos totalmente frias, secas.

Mas... Uma fumaça ao longe... Um cigarro... Sozinho, esperando alguém no cinzeiro. Será que você esqueceu lá? Corro pra pegá-lo... Como pode esquecer? Atropelo gente... Como pode? Pisoteio copos... Como? Cacos de vidro no caminho... Brasas crepitando sob meus pés... Fogo... Incêndio... Você ardendo! Te achei! Sua boca dizendo... "Você achou! Achei que já tinha apagado". Nunca. Nunca apaga.

Me aposso do cigarro abandonado, beijo seu ombro descuidado, pego na sua mão totalmente largada no vazio de uns segundos da minha ausência, e devolvo seu fogo estrategicamente entre seus dedos. Seu cigarro, que tive o prazer de ter por apenas uma tragada nessa noite.

E eu quero mais.

Ver você devorar o que restou da brasa que eu te dei é delicioso. Só ver... Você engolindo fogo, e seus olhos em chama, pra mim, incendiando a noite.

Mas eu quero mais.

E eu peço mais.

E ganho mais.

Da sua boca, o último segundo de vida do seu cigarro. E devoro como se fosse o último gosto seu.


FIM DO QUARTO CIGARRO




quinta-feira, junho 04, 2009

Cigarette Countdown - #3

Fiquei tonta, totalmente fora de mim. 

Seu cheiro atingiu meus olhos e eu pude te ver de verdade. Foi de tirar o fôlego. Pisquei por um instante pra te reter em mim. 

Abri os olhos pra ter um pouco mais de você. Não havia mais de você. Já não estava mais. 

Como pude ser tão egoísta, tentar te prender nos meus olhos! Como você pode ser tão sacana, tentar me prender em seu cheiro. 

Precisei me livrar disso. 

Acendi um cigarro, procurei ar, procurei fumaça, procurei escuridão e achei a lua na janela. Cheia, iluminando meu rosto desconexo, retrato de quem perdeu o melhor de você. 

Sufoquei com a primeira tragada, a segunda doeu mais, na terceira eu já não sentia mais a garganta, nem você, não te via, não te tinha nem tinha mais a mim.  Mas seu cheiro, seu balançar de cabeça, vértebras alinhadas, seu mistério, seus dedos, onde estão? 

Impossível... Seus dedos no meu cabelo. Senti, mais uma vez. Relapso toque, como quem não quer chegar tão perto, mas quer ser pressentido. 

Eu pressenti você novamente. Mais uma tragada e tudo some de novo? 

E senti mais... Sua respiração no meu ouvido, seu braço envolvendo minha cintura. Deveria me virar? Deveria sorrir quando te visse? Achei que o melhor fosse te olhar e te repreender por me deixar tão solta.

Engoli os últimos centímetros do cigarro, atirei a ponta pela janela, e me virei. Dane-se o incêndio lá fora. Agora é aqui com você! 

FIM DO TERCEIRO CIGARRO

terça-feira, maio 19, 2009

Cigarette Countdown #2


Do outro lado da sala, a porta. Aberta, escancarada pra você entrar. 
Do outro lado da porta, o quarto. Escuro, fechado no mistério de quem irá habitá-lo esta noite. 
E eu, entre a porta e você. 
Eu, aberta, escancarada
Você, escura, fechada no seu mistério. 
Entre nós duas, a luz do isqueiro, seu cigarro e meu também em uma única boca. 
Vem pegar, te chamo. 
A chama dança frenética com minha respiração ofegante. 
Chega mais perto, te chamo. 
Não consigo tirar os olhos de você e não percebo o cigarro se consumindo sem ter sido saboreado. Seus cabelos entre os dedos, seus dedos. E os meus? Onde estão? Gelados, paralisados com a inexistente distância de apenas um cigarro. Um cigarro nos separa, sua boca da minha, seus dedos do meu. Seus dedos, meu Deus... você abraça meus dedos num bote de serpente, arranca o cigarro dentre eles, leva até a sua boca, prova-o, liquida-o, liquida a minha esperança de tragar a última dose do veneno. Demora com a fumaça dentro de você, como se eu estivesse lá, dançando na sua língua. E finalmente solta a fumaça e com a voz rouca de quem não tem mais energia de tanto brincar, me pergunta: Quanto vale um cigarro?  





FIM DO SEGUNDO CIGARRO 

sexta-feira, maio 08, 2009

Cigarette Countdown - #1


Sentei-me à distância. 

Acendi o cigarro com uma mão e a outra segurava a sua taça de vinho. Fixei o olhar incrédulo nas suas costas, as curvas do pescoço, as omoplatas, as vértebras alinhadas, equilibradas, dançando pra mim. A luz azul da noite lá de fora privilegiava seus cabelos escuros, amarrados confusamente, numa espiral displicente, descendente.

E então você virou pra mim, sorriu meio sem jeito, e lançou o primeiro passo na minha direção. Caminhou lentamente buscando meu olhar entre a névoa que me envolvia. Mas eu te via perfeitamente. Perfeitamente clara e escura na penumbra da sala. 

Estendeu o braço pedindo o copo. Sua sombra me atingiu primeiro. Meus pêlos despertos sentiram o toque. Mas você ainda estava fora do alcance real. 

E sem imaginar o tremor que isso ia causar dentro de mim, parou no meio do caminho, afastou dos olhos uns tantos fios de cabelo desarrumados e sorriu desleixada, como que dizendo que não daria mais nem um passo. Foi o meu limite! 

 

Fim do primeiro cigarro.

segunda-feira, maio 04, 2009

Reflexo #2 - CORAÇÃO - PEDRA LISA (Setembro 2005)

São raras a vezes que saio de casa e me viro pra olhar pra tras. Mas hoje eu olhei e vi. 

Vi o que não tem nome, o que não tem foto nem palavras pra descrever. Vi o que de fato me consome, o que some e o que me escapa. 

Vi quão perigoso é o chão que piso... e pé ante pé me equilibro nessa massa inconsistente.
 
São raras as vezes que dobro a esquina e sinto um calafrio. Mas hoje eu senti e pensei. 

Pensei que poderia ser a última, a mais importante e a mais sem sentido algum. Senti o que de fato me mata, o que me castra e me atira aos tubarões. 

Senti quão duro é o coração que piso ... e pé ante pé me desequilibro nessa pedra lisa.
 
São raras as vezes que acordo e não respiro. Mas hoje eu acordei e não ... 

Reflexo #1 - PALAVRAS DURAS (Setembro 2005)

Estava saudosista hoje e revirei minhas gavetas. Aqui estão algumas postagens de blogs antigos... mundo distante, mas que ainda fazem ecos e provocam reflexos:

SEMPRE que sinto
    Minto no QUASE sentir
       SE pudesse assumir
          o que em mim existe
                                               Exit
             MAS...
                fulgaz condição de ir 
                  ATÉ um certo limite
                    do incerto que aflige
                       ATÉ onde permitem
                          MAS SE QUASE SEMPRE
                             QUASE ATÉ SEMPRE
                                MAS SE SEMPRE QUASE ATÉ
 
Então eu espero
            ATÉ
Você
              QUASE
querer
                MAS
eu
             SEMPRE
contigo
              SE... 

sábado, abril 11, 2009

Só pra tirar isso de mim ( to be continued... )

Algo que acabo de começar e nem sei se tem fim!!!! é o esqueleto de Pandora, a ser construído.

M: 
Peço perdão padre, por eu ter pecado.

P: 
Qual foi seu pecado minha criança?

M: 
Eu duvidei. Eu disse que nunca poderia acontecer.

P: 
E aconteceu da maneira mais inesperada, não é?

M:
 Sim padre. Eu estava distraída, não estava preparada. Foi tudo muito rápido e ao mesmo tempo poderia contar os detalhes, sem perder um só ponto ou vírgula do que foi dito.

P: 
Você gostaria de contar como foi?

M: 
Sim padre. É pra isso que eu vim. Eu recebi o melhor dos presentes que um humano poderia receber. Era linda, a caixa. Tinha a cor de todos os entardeceres que eu já vi, os belos e os não tão divinos assim. Era leve, mais leve que o vapor da chaleira de manhã. E o perfume... Não posso descrever. Misterioso e desconhecido. Um cheiro de nada, nada que eu já tenha sentido antes. 

P: 
Sempre te vi carregando isso.

M: 
Não padre. Carregando, não. Guardando, bem guardado. Me foi dito que todos iriam querer ver, tocar, roubar e o pior, abrir. E de nada adiantou. Perdi o controle.

P:  
Você acha que era você quem estava no controle?

M: 
Sim, a caixa foi dada a mim. Estava sob meu controle.

P: 
Estava sob seus cuidados. E você foi descuidada. Não há pecado nisso. 

M:
Houve um tempo que eu achava que poderia ter tudo, a caixa, a calma, o mundo. Mas não se tem tudo, não é.


( terminarei isso quando tiver tempo )

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