quinta-feira, junho 18, 2009

Cigarette Countdown #4


Desviando de pessoas, fumaça, cabelos, copos... Isso é só um apartamento, mas pareço perdida numa cidade estranha, a sua procura. Tremo, muito! Frio não é. Minhas extremidades estão ardendo, meu rosto escaldado, fervendo com a lembrança quente do seu sorriso.

Passo por um, dois, três corpos. Não é o seu. Quatro, cinco, seis costas, nada me chama. Sete, oito, nove cigarros em mãos totalmente frias, secas.

Mas... Uma fumaça ao longe... Um cigarro... Sozinho, esperando alguém no cinzeiro. Será que você esqueceu lá? Corro pra pegá-lo... Como pode esquecer? Atropelo gente... Como pode? Pisoteio copos... Como? Cacos de vidro no caminho... Brasas crepitando sob meus pés... Fogo... Incêndio... Você ardendo! Te achei! Sua boca dizendo... "Você achou! Achei que já tinha apagado". Nunca. Nunca apaga.

Me aposso do cigarro abandonado, beijo seu ombro descuidado, pego na sua mão totalmente largada no vazio de uns segundos da minha ausência, e devolvo seu fogo estrategicamente entre seus dedos. Seu cigarro, que tive o prazer de ter por apenas uma tragada nessa noite.

E eu quero mais.

Ver você devorar o que restou da brasa que eu te dei é delicioso. Só ver... Você engolindo fogo, e seus olhos em chama, pra mim, incendiando a noite.

Mas eu quero mais.

E eu peço mais.

E ganho mais.

Da sua boca, o último segundo de vida do seu cigarro. E devoro como se fosse o último gosto seu.


FIM DO QUARTO CIGARRO




quinta-feira, junho 04, 2009

Cigarette Countdown - #3

Fiquei tonta, totalmente fora de mim. 

Seu cheiro atingiu meus olhos e eu pude te ver de verdade. Foi de tirar o fôlego. Pisquei por um instante pra te reter em mim. 

Abri os olhos pra ter um pouco mais de você. Não havia mais de você. Já não estava mais. 

Como pude ser tão egoísta, tentar te prender nos meus olhos! Como você pode ser tão sacana, tentar me prender em seu cheiro. 

Precisei me livrar disso. 

Acendi um cigarro, procurei ar, procurei fumaça, procurei escuridão e achei a lua na janela. Cheia, iluminando meu rosto desconexo, retrato de quem perdeu o melhor de você. 

Sufoquei com a primeira tragada, a segunda doeu mais, na terceira eu já não sentia mais a garganta, nem você, não te via, não te tinha nem tinha mais a mim.  Mas seu cheiro, seu balançar de cabeça, vértebras alinhadas, seu mistério, seus dedos, onde estão? 

Impossível... Seus dedos no meu cabelo. Senti, mais uma vez. Relapso toque, como quem não quer chegar tão perto, mas quer ser pressentido. 

Eu pressenti você novamente. Mais uma tragada e tudo some de novo? 

E senti mais... Sua respiração no meu ouvido, seu braço envolvendo minha cintura. Deveria me virar? Deveria sorrir quando te visse? Achei que o melhor fosse te olhar e te repreender por me deixar tão solta.

Engoli os últimos centímetros do cigarro, atirei a ponta pela janela, e me virei. Dane-se o incêndio lá fora. Agora é aqui com você! 

FIM DO TERCEIRO CIGARRO


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