terça-feira, abril 13, 2010

Cigarette Countdown #12


Tantas chamas, tanto fogo, tantas cores num escuro vermelho.

Sua respiração é tudo que vejo, em meio aos seus cabelos escuros. É uma cegueira com flashes de urgência. São pernas entre pernas, dedos entrelaçados em desejos fortes. Nos beijos vorazes onde quase nos arrancamos uma de dentro da outra sentimos o gosto dos nossos medos e aflições. Nos abraçamos mais forte. Sua cintura se espreme na minha mão. Minha nuca queima seus braços. Agora não somos mais eu e você, separadas pelo claro das nossas intenções. Somos nós, juntas, em nossos escuros reveladores. Não há mais nada além disso, não há urgência maior que a nossa.

Há! Houve!

Como se tivessem acendido um holofote pra nos pegar em fuga, uma luz surge na cabeceira da cama. Uma música, ao longe, te afasta de mim. Sou arremessada no espaço, distante. E você some no vácuo. Escuto sua voz apenas. E não é comigo que você fala. Com quem você desperdiça palavras agora? Pra quem você diz "Sim, está tudo bem."? Do outro lado do mundo, num universo que não quero acreditar que exista, alguém implora pra que você volte pra casa. Eu ouço um pouco. Eu morro um pouco. Eu fujo um pouco. Eu, um pouco!
Quem precisa de você agora? Quem te quer mais do que eu agora? E você sorri, pra quem?
Preciso de luz, preciso de ar seu dentro de mim pra saber que você está ainda aqui comigo.
Um cigarro indesejado é acendido, só pra te ver. Só pra você me notar por ali. E você nota, me olha, se distancia do telefonema e disfarçando o sorriso, seriamente adulta, diz palavras brutas e insignificantes, que não foram criadas para você falar.
Ainda com aquela voz colada no seu ouvindo, você senta e me chama pra perto. Segura meu cabelo entre os dedos, me acaricia o rosto e silenciosamente beija meu ombro. Tira o cigarro dos meus lábios, e recebo mais um toque silencioso dos seus lábios nos meus. Entendo agora nosso segredo. A cumplicidade é ainda maior. Temos mais do que imaginávamos.
Sou paciente. Meu cigarro queima com você. Eu espero, eu renasço nos seus olhares.
Você desliga, você volta, você tão presente quanto eu. Esqueço o último cigarro que não foi pra mim, nem pra você, e continuamos de onde nunca paramos.
E repito em mim:
Agora não somos mais eu e você, separadas pelo claro das nossas intenções. Somos nós, juntas, em nossos escuros reveladores. Não há mais nada além disso, não há urgência maior que a nossa.


FIM DO DÉCIMO SEGUNDO CIGARRO

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