Do outro lado da sala, a porta. Aberta, escancarada pra você entrar.
Do outro lado da porta, o quarto. Escuro, fechado no mistério de quem irá habitá-lo esta noite.
E eu, entre a porta e você.
Eu, aberta, escancarada.
Você, escura, fechada no seu mistério.
Entre nós duas, a luz do isqueiro, seu cigarro e meu também em uma única boca.
Vem pegar, te chamo.
A chama dança frenética com minha respiração ofegante.
Chega mais perto, te chamo.
Não consigo tirar os olhos de você e não percebo o cigarro se consumindo sem ter sido saboreado. Seus cabelos entre os dedos, seus dedos. E os meus? Onde estão? Gelados, paralisados com a inexistente distância de apenas um cigarro. Um cigarro nos separa, sua boca da minha, seus dedos do meu. Seus dedos, meu Deus... você abraça meus dedos num bote de serpente, arranca o cigarro dentre eles, leva até a sua boca, prova-o, liquida-o, liquida a minha esperança de tragar a última dose do veneno. Demora com a fumaça dentro de você, como se eu estivesse lá, dançando na sua língua. E finalmente solta a fumaça e com a voz rouca de quem não tem mais energia de tanto brincar, me pergunta: Quanto vale um cigarro?
FIM DO SEGUNDO CIGARRO
2 comentários:
Fascinante esse conto!!
E quanto vale um cigarro?
Ainda preciso descobrir, mas por enquanto um cigarro está me valendo momentos perfeitos!
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