... e continuamos, eu e você, de onde nunca deveríamos ter parado.
Esqueço a interrupção daquela voz que não era minha, ardendo em seus ouvidos ao telefone. Você agora arde em mim, comigo e pra mim. Mas sei que algo mudou. Você treme mais que eu, você fecha mais os olhos e morde os lábios num medo só seu, onde eu não ouso tocar.
Mas já aprendi como te tocar.
Acendo um cigarro meu, pra você. Ponho o fogo nos seus lábios tensos. Você sorri e me saboreia neste presente. Desço pelo seu corpo junto com fumaça: língua, garganta, peito. E você me segura , envolve seu braço sem controle sobre meu pescoço. Mais um pouco, suficientemente perto para ouvir seu coração atormentado. Não quero ouvi-lo, não quero ver quem ou o que você guarda nele.
Me desvencilho do seu não, e você se desvencilha da minha fumaça. Eu desço, eu danço, eu deixo seu controle pra lá e me vejo absolutamente cercada de você. Mais uma fumaça que entra, e sua perna faz o que seus braços não alcançam mais. Desta vez, seu controle é o meu guia, sua perna me impulsiona pra onde eu deveria ir.
Minha visão escurece, não preciso dela agora. Olfato e paladar, pra saber que você é real. Tato e audição pra saber que eu sou real. Tenho seu gosto em mim, seu cheiro, seus gritos abafados pedindo mais, seus dedos em meus cabelos não me deixando respirar. Tenho tudo, tudo o que eu nunca conseguiria pedir, tudo o que você nunca conseguiria negar.
Tive você, como talvez nem você pudesse se ter.
Enfim, você se contorce, torce lençóis e me chama exausta. Me devolve com toda gratidão do mundo o fogo que eu te trouxe: o cigarro quase no fim. Como se eu não estivesse já tomada de todos os seus sabores, me delicio com essa pontinha que por instantes esteve morrendo em sua boca.
FIM DO DÉCIMO TERCEIRO CIGARRO
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