quinta-feira, agosto 25, 2011

Cigarette Countdown #15

Exaustas. Exalamos cheiros e sabores esfumaçados. Respiramos juntas tudo isso.


Silêncio de quase manhã. 


Olhos fechados, meus e seus universos em segundos, separados por fantasias particulares e memórias de alguns cigarros reais. 
Sua perna trêmula descansa na minha, seu corpo ainda pulsante encontra conforto em meus braços. Você se aninha em meu peito e sorri, ouvindo os primeiros sinais de início do dia. E sem pudores de parecer que sempre te quis minha, digo: Já te falei o quanto eu gosto de adormecer ouvindo os pássaros acordarem? Você ri da minha confissão trivial, desdenha, e enrosca sua perna mais um pouco em mim, sem pudores de aceitar que sempre quis ser de alguém, diz: Não, você nunca me disse...
Eu te busco mais um pouco pra perto, te pergunto do que gosta e ouço de você um suspiro longo, preguiçoso, ganho um beijo no pescoço e: Gosto disso, desse gosto sonolento que você...


Adormece, nos meus braços.


Esse cigarro é só meu agora. Busco o maço ao lado da cama, sem te despertar, sem deixar você perdida em lençóis. Trago um pouco de luz pra mim. Acendo esse cigarro avivando minha memória, invadindo seu sonhar tão leve e sincero. Consumo essa fumaça desenhando caminhos pelo teto do quarto, definindo curvas pelo seu corpo. E digo baixinho para uma Você onírica, quase uma canção que você poderia ter me pedido para cantar em seu ouvido, as coisas que eu gostarei a partir dessa noite: becos, ruas, vielas escuras que me lembram seus olhos. Parques ensolarados ao amanhecer, como seus sorrisos. Noites de luas gigantescamente cheias refletidas em cabelos negros como os seus. Cabelos que agora estão ensopados de mim, bagunçados de nós. Sinto neles uma textura que nunca senti, enrolo meus dedos por uma mecha que insiste em me querer.  Não desvencilha.


Você me ouve ainda? Você me sonha agora?


Fecho meus olhos e saboreio esse idílico cigarro, com você sonhando em mim, suas pernas fincadas nas minhas, seus cabelos descansando entre meus dedos, e meus olhos fixos num indesejável fim.






FIM DO DÉCIMO QUINTO CIGARRO 

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