E você me olhou, e me olhou bem.
Um pouco de ar roubou o espaço entre nós duas. Refrescou o suor da noite quente, da faísca do atrito dos corpos incendiários. Refrescou, mas não diminuiu o estrago.
Você soltou meu quadril por um instante, passou as costas da mão no meu rosto, afastou meu cabelo ensopado de te querer, aproximou a boca no meu ouvido e fiquei esperando a rajada da sua voz. E veio, e entrou, e me arrebatou: "A espera é só sua." - ela disse - "Mas não precisa ter pressa!"
Não quero ter pressa, quero descobrir cada gosto seu, cada cheiro, quero ver sua pele saltar da carne quando te toco. Mas você se esconde de alguma forma. São seu cabelos nos olhos, é sua respiração entrecortada, nunca terminando o que insinua, é a sua voz que me remete à algum beco escuro, sem saída?
Nada disso! Retomo. Eu te levo pra onde eu consiga só você. Vem comigo?
Acho uma porta, te pego no braço.
Acho uma chave, te puxo pra dentro.
Acho um escuro macio, vazio, silêncio.
Pressa? Pra que a pressa? Repito incansavelmente na minha mente inquieta. Pra que o sufoco do tempo?
Sento na cama, te sinto apenas, não te vejo. Alcanço a sua mão, os dedos finos, quero um dedo apenas. Temo estar indo rápido demais. Quero lento. Que gosto terá? Gosto de medo, de vontade, de querer agora? Ou depois? Abro a boca devagar, sinto primeiro o cheiro, depois a língua toca a ponta, e todo o dedo, e você treme, como eu.
Lento?
Devagar?
Sem pressa?
Você não pensa mais nisso, nem eu. Arranco o pouco que cobria seu colo, e tenho, sem ver, o contorno perfeito dos ombros, costas, peitos, cintura.
Luz! Vejo o mínimo do que antes estava na minha boca. Seu dedo. Outros dois dedos e um cigarro no meio. Luz no rosto, fogo nos lábios. Te vejo um pouco. Te vejo um quase. Fumaça. Arde seu sorriso mordendo os lábios.
Aproveito a pausa pra te observar, e te querer ainda mais.
Mais um cigarro e novo começo.
Pra que a pressa?
Pra que o tempo?
Quero te amanhecer.
FIM DO OITAVO CIGARRO