E o que se segue tem que ser impressionante.
Se até agora estou sem respirar por ter você aqui de pé, me olhando sentada, atônita, minhas mãos na sua cintura, sua cintura na fumaça do último cigarro, cigarro esse que nem sei se existiu.... não senti... não vi queimar.
O que mais terei de você?
Tive suas costas-dança, seu sorriso-fumaça, seu dedo-gosto. Tive meia-noite de lua, de sombra e chama.
Seguro suas coxas cobertas de jeans, te faço dobrar os joelhos e tenho você preenchendo o vazio ao meu redor. Seus cabelos saem do controle quase inexistente pra se jogarem sobre meu rosto quente. Qual golpe poderia ser mais preciso? Perco o ar definitivamente. Tomo sem pedir, as pequenas e breves exaladas da sua respiração perto da minha boca.
Perco a visão, mas afinam outros sentidos. Sinto cada pelo do seu braço, cada curva dos ossos. Ouço tudo claramente. Você se abaixa mais sobre mim, coloca sua perna entre as minha, exerce a força entre elas que eu mesma já não tenho. Me faz curvar.
Me faz soltar um som que nunca tinha ouvido antes, um grito surdo, cerrado entre dentes e lábios. Seus lábios no meu ouvido, meu ouvido recebe a mensagem, a mensagem chega onde não deveria, e eu compreendo o que você tenta dizer: "Não estou sozinha. Apenas hoje. Por enquanto estamos aqui, e não poderá ser outra noite."
Mais uma dança de pernas, mais um tranco nos quadris, mais pele, mais cabelo, mais sufoco, mas... Assumo o controle, vou por cima, deixo você ali deitada. Você se vira, me dando as costas mais desejáveis de todos os minutos dessa noite, estende a mão até a cômoda, pega o que antes era nosso fogo, agora é nossa dúvida. Não vejo seu rosto, mas seu corpo inteiro estremece num desejo interrompido.
Nosso cigarro é sugado no silêncio.
Nossa noite é sugada num moinho, um furacão, e nós no meio, vendo o mundo girar.
Fim do Nono Cigarro