Horas. Eras se passaram por nós duas. A lua se moveu rapidamente, e não está mais onde a vi pela primeira vez: nos seus cabelos. Não há mais música, não há mais vozes de um universo distante, atrás da porta do nosso quarto. Este quarto!
Tudo diferente. Lençóis devastados, você descoberta, eu desmedida, metida em sua vida numa única noite, numa única lua, em 13 cigarros.
Nada existia antes dessa noite, não houve antes desse momento, não houve antes dos seus cabelos, nunca houve um verdadeiro ANTES de você.
Num esforço tremendo dos meus músculos entregues aos seus, me levanto, estico, imploro pra não esquecer de voltar pra cama, pois já estou perdida nos flashes de um depois de você.
Não me deixe divagar, eu peço com os olhos iluminados pelo isqueiro, meio escondido pela minha mão trêmula.
Não me deixe dizer não, eu rogo, sugando o ar poluído desse novo cigarro.
Não me deixe sair de você, eu exalo minha súplica no ar.
Você desavisada dos meus pensamentos mais escorregadios, me pergunta: Pra onde irá depois daqui? Pra onde irei? Depois disso? Depois dessa noite? Depois...
E lembro tristemente de um Antes:
Uma casa. Vazia.
Flores num canto esperando vida.
Chave na porta.
Imagem confusa no espelho do elevador.
Eu.
Descendo, sucumbindo na noite.
Rua, beco escuro.
Ando. Espero. Fumo, sem gosto.
Outra casa. Cheia.
Flores em cabelos cheios de vida.
Porta aberta
Imagem confusa na janela da sala.
Eu.
Te vendo, sucumbindo na sua noite.
Lua., quarto escuro.
Ando. Tenho. Fumo, seu gosto.
Não tem pra onde ir depois daqui. Não sem você. Tremo de medo. Tropeço em expectativas vãs e lençóis. Atravesso nossas roupas e barreiras de um "quem sabe". E transformo sua pergunta num novo impulso de ter um agora, um mais presente, sem antes ou depois.
Me sento ao seu lado, e respondo: Depois? Quem sabe? E ganho meu direito de ouvir seu agudo de novo, numa gargalhada, num gemido, num pedido irrecusável de terminarmos juntas esse novo cigarro.
FIM DO DÉCIMO QUARTO CIGARRO